QUANDO AS PALAVRAS DE JESUS PARECEM DIFÍCEIS - JOÃO 6:60-71
INTRODUÇÃO
Esses versículos compõem, de forma comovente, a parte final do famoso sermão de Jesus que ocupa quase todo o capítulo 6 do Evangelho de João.
Eles revelam com grande clareza a dureza e a corrupção do coração humano. Mesmo quando o pregador é o próprio Filho de Deus, muitos parecem ouvir em vão.
No entanto, podemos extrair desse texto lições preciosas sobre o discipulado e a fé genuína.
1) ALGUNS ENSINOS DE JESUS SÃO DIFÍCEIS PARA A MENTE HUMANA — O HOMEM NATURAL (JOÃO 6:60-62)
Alguns daqueles que seguiam Jesus por um tempo ficaram ofendidos quando Ele falou sobre “comer Sua carne e beber Seu sangue”. Murmuraram e disseram: “Duro é este discurso; quem pode suportá-lo?”
Infelizmente, esse tipo de murmuração sempre existirá. Para alguns, o ensino de Jesus parece difícil de entender; para outros, difícil de crer e de obedecer. Isso faz parte da natureza caída do homem.
Como afirmou o apóstolo Paulo:
“O homem natural não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois para ele são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”
(1 Coríntios 2:14)
A humildade é essencial para receber o ensino de Cristo. Jesus disse:
“Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos Céus.”
(Mateus 5:3)
Se acharmos difícil entender os ensinos de Jesus, devemos lembrar da nossa limitação e confiar que conheceremos mais à medida que andarmos com Ele.
Se acharmos difícil obedecer, lembremo-nos de que os mandamentos do Senhor não são pesados (1 João 5:3b), e que Ele nunca exigirá nada além do que Sua graça pode nos capacitar a cumprir.
Tudo o que Ele ordena, Ele mesmo nos concede a graça capacitadora para realizar.
2) DEVEMOS EVITAR UM SIGNIFICADO CARNAL PARA O ENSINO DE CRISTO (JOÃO 6:63)
Jesus respondeu aos murmuradores:
“O Espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita. As palavras que eu vos disse são espírito e são vida.”
(João 6:63)
É o Espírito Santo quem produz vida espiritual no coração humano. Devemos “comer” espiritualmente as palavras de Jesus, e é assim que recebemos vida pelo Espírito.
O nosso espírito não é material; por isso, não se alimenta de coisas físicas, mas da Palavra viva de Cristo, ministrada pelo Espírito Santo.
3) CRISTO CONHECE PERFEITAMENTE O CORAÇÃO HUMANO (JOÃO 6:64)
Jesus conhecia, com total clareza, a incredulidade e a traição daqueles que aparentavam ser Seus amigos e seguidores.
Nada está oculto aos olhos do Senhor. Portanto, não adianta fingir diante Dele. Devemos ser verdadeiros, sinceros e livres de hipocrisia.
“Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, mais afiada que qualquer espada de dois gumes; penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração. Nada, em toda a criação, está oculto aos olhos de Deus; tudo está descoberto diante d’Aquele a quem havemos de prestar contas.”
(Hebreus 4:12-13)
4) O PERIGO DO VELHO PECADO DA APOSTASIA (JOÃO 6:66)
A apostasia é o afastamento do Senhor Jesus e de Seus caminhos. Trata-se de alguém que, em algum momento, andou próximo a Ele, mas depois O abandonou.
Esses discípulos acharam o ensino de Jesus difícil demais para obedecer.
“Daquela hora em diante, muitos dos Seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-Lo.”
(João 6:66)
Eles se parecem com os ouvintes superficiais da parábola do semeador:
“Quanto ao que foi semeado em terreno pedregoso, este é o que ouve a palavra e logo a recebe com alegria; mas, não tendo raiz em si mesmo, permanece por pouco tempo. Quando surge a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, logo abandona.”
(Mateus 13:20-21)
A apostasia sempre existiu, e nos últimos dias aumentará rapidamente.
“O Espírito diz claramente que, nos últimos tempos, alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios.”
(1 Timóteo 4:1)
Isso não deve nos surpreender nem abalar nossa fé. Homens como Demas, a esposa de Ló e Judas Iscariotes tiveram um vislumbre do céu, mas olharam para trás e desistiram.
Quanto a nós, permaneçamos firmes no Senhor, cuidando do nosso relacionamento com Ele todos os dias.
“Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia.”
(1 Coríntios 10:12)
5) A PODEROSA DECLARAÇÃO DE FÉ DE PEDRO (JOÃO 6:67-69)
Depois que muitos discípulos abandonaram Jesus, Ele perguntou aos Doze:
“Vocês também não querem ir?”
(João 6:67)
Pedro, cheio de fé, respondeu:
“Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna. Nós cremos e sabemos que Tu és o Santo de Deus.”
(João 6:68-69)
Jesus estava sendo rejeitado por muitos judeus, especialmente pelos líderes religiosos — fariseus, saduceus e escribas. Por isso, a confissão de Pedro foi um ato de fé e coragem.
“Para quem iremos nós?” — essa pergunta revela discernimento espiritual. Pedro reconheceu que Jesus é o Cristo de Deus, o Filho encarnado, incomparável e único mediador entre nós e o Pai.
Devemos fazer a mesma pergunta sempre que a fé for provada:
“Para quem iremos nós?”
Onde mais encontraremos paz, esperança, conforto e certeza de vida eterna?
6) O POUCO BENEFÍCIO QUE ALGUNS OBTÊM DOS PRIVILÉGIOS ESPIRITUAIS (JOÃO 6:70-71)
“Então Jesus respondeu: ‘Não fui Eu que escolhi vocês, os Doze? Todavia, um de vocês é um diabo.’ Ele se referia a Judas, filho de Simão Iscariotes, que, embora fosse um dos Doze, mais tarde haveria de traí-Lo.”
(João 6:70-71)
Se houve alguém que naufragou na fé, foi Judas Iscariotes.
Ele foi escolhido pelo próprio Senhor Jesus, caminhou com Ele, presenciou Seus milagres, participou da missão apostólica — e, mesmo assim, não usufruiu dos benefícios espirituais desse privilégio.
Seu caráter tornou-se tão corrompido e obscurecido pelas trevas que Jesus disse: “Ele é um diabo.”
Isso nos ensina que títulos, posições religiosas ou privilégios espirituais não salvam ninguém.
Uma pessoa pode desfrutar de grandes oportunidades no Reino e, ainda assim, ser rejeitada, se não permitir que o coração seja transformado.
Por isso, apeguemo-nos ao Senhor Jesus com todo o nosso coração, e não deixemos que nosso interior se corrompa pelas ilusões deste mundo.
CONCLUSÃO:
Diante desse texto, somos chamados a olhar para dentro de nós e examinar com sinceridade o nosso coração. Muitos ouviram a voz de Jesus naquele dia, mas poucos permaneceram com Ele. As palavras do Mestre não mudaram — continuam sendo espírito e vida, continuam sendo verdade que liberta e transforma.
O Senhor ainda nos pergunta:
“Vocês também não querem ir?”
E é nesse momento que a fé genuína precisa responder como Pedro:
“Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna.”
Seguir Jesus nunca foi o caminho mais fácil, mas é o único que conduz à vida verdadeira. Em tempos de incredulidade e de tantas vozes que tentam nos afastar da fé, precisamos permanecer firmes, alimentando nossa alma na Palavra, cultivando comunhão com o Espírito Santo e guardando o coração contra a frieza e a apostasia.
Lembremo-nos: Cristo conhece os nossos corações, vê as nossas lutas, entende as nossas fraquezas e nos oferece graça para prosseguir.
O mesmo Jesus que confrontou a multidão é o que hoje nos chama com amor, dizendo:
“Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós.”
Que a nossa resposta seja de fidelidade, de entrega e de confiança.
Mesmo que muitos se desviem, que nós sejamos daqueles que permanecem firmes, sustentados pela graça e movidos pela certeza de que somente em Jesus há palavras de vida eterna.
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