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segunda-feira, outubro 14, 2024

TRANSFORMANDO O SOFRIMENTO EM VITÓRIA - 1 PEDRO 4:1-11

 

TRANSFORMANDO O SOFRIMENTO EM VITÓRIA - 1 PEDRO 4:1-11 

Por Josivaldo Oliveira

"Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento, pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado, para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus. Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias. Por isso, difamam-vos, estranhando que não concorrais com eles no mesmo excesso de devassidão, os quais hão de prestar contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos. Pois para este fim foi o evangelho pregado também a mortos, para que, mesmo julgados na carne segundo os homens, vivam no espírito segundo Deus. Ora, o fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos e sóbrios para bem das vossas orações. Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre uma multidão de pecados. Sede mutuamente hospitaleiros, sem murmuração. Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que em todas as coisas seja Deus glorificado por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém." (1 Pedro 4:1-11)


Oração
Pai Santo, estou diante de Ti. Acabamos de ler a Tua palavra, e ela, por si só, é a Tua voz falando ao nosso coração. Pedimos que o Teu Espírito Santo use este texto nesta hora, que ele seja canal do Senhor, para que os Teus filhos sejam edificados e transformados pela revelação da Tua palavra. Não estamos estudando essa porção da Palavra para sermos entretidos, mas para sermos transformados. Como disse o apóstolo Paulo em Romanos 1:16, "não me envergonho do Evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê..." Cremos que o Teu Evangelho é poder de Deus para salvar, curar, libertar e transformar. Oramos assim, na dependência do Senhor, em nome de Jesus. Amém.

Introdução

Estamos estudando a primeira epístola de Pedro, e uma das coisas que percebemos é como o tema do sofrimento é frequentemente abordado. Pedro escreve para cristãos que estavam dispersos pela Ásia Menor, sendo perseguidos por amor ao Evangelho. Eles enfrentavam intensas batalhas e sofrimentos.

Pedro, então, escreve esta epístola para encorajar esses irmãos, para fortalecer sua fé em meio às lutas. E, assim como eles, nós também enfrentamos sofrimentos e batalhas. A palavra de Deus vem ao nosso coração com o mesmo propósito: nos encorajar, nos dar ânimo, fé e esperança.

A Busca pela Felicidade
Vivemos em uma sociedade que busca felicidade a todo custo. Existe até um ditado que diz: "O importante é ser feliz." As pessoas estão dispostas a se deleitar nos prazeres deste mundo em busca dessa felicidade. Mas a felicidade que o mundo oferece é uma felicidade falsa.

A verdadeira felicidade só é encontrada quando vivemos para Deus e cumprimos os Seus propósitos. Fomos criados por Ele e para Ele. Nossa alma só encontrará plena realização quando nos deleitarmos em Sua Presença.

O Papel do Sofrimento na Vida do Cristão
Muitos não entendem por que os cristãos sofrem. Eles buscam apenas felicidade e não conseguem conceber o porquê do sofrimento. Mas o fato é que Deus não nos poupa do sofrimento, Ele nos acompanha nele. Ele não nos impede de passar pelos vales, mas está conosco nos vales. Não nos impede de enfrentar a fornalha, mas está conosco na fornalha. E, assim, vemos nas Escrituras que o povo de Deus sempre enfrentou provações, sofrimentos e batalhas intensas – mas Deus estava com eles em cada uma dessas circunstâncias.

Portanto, precisamos entender que, mesmo quando estamos enfrentando tempos de dificuldade, isso não significa ausência de Deus.

O Sofrimento como Instrumento de Ensino
No texto que lemos, Pedro nos mostra um dos propósitos de Deus no sofrimento. Ele permite o sofrimento na vida do cristão para nos ensinar a vencer o pecado.

O versículo 1 diz: "Aquele que sofreu na carne deixou o pecado." O sofrimento, aqui, é visto como um instrumento pedagógico de Deus, para nos ajudar a vencer o pecado e viver segundo a Sua vontade.

Pedro enfatiza que, antes de sermos transformados pelo Evangelho, vivíamos em dissoluções, concupiscências e idolatrias. Mas agora, por meio do sofrimento, Deus nos ensina a renunciar a essas práticas e a viver de acordo com a Sua vontade.

Deus permite o sofrimento na vida do cristão, daquele que teme a Deus, para que possamos, por meio desse sofrimento, aprender a lidar com o pecado e vencer essa batalha. O mesmo sofrimento que amolece o coração do crente, que teme a Deus, endurece o coração do perverso, do ímpio. É como diferentes alimentos submetidos ao calor: o ovo endurece, enquanto o macarrão, que é rígido, amolece. Assim, há pessoas que, ao passar pelo sofrimento, se quebrantam, aprendem lições espirituais, se aproximam de Deus e se tornam melhores. Como Davi disse: “O sofrimento foi bom para mim, pois me ensinou a dar atenção a teus decretos”  (Salmo 119: 71 NVT).

Entretanto, existem aqueles que, ao sofrerem, tornam-se mais endurecidos, amargos e perversos. Faraó, por exemplo, teve seu coração ainda mais endurecido pelo sofrimento. O mesmo sofrimento que amolece um, endurece outro.

A Batalha Contra o Pecado

Pedro nos ensina três atitudes que precisamos ter nessa luta:

1. Armar-se Contra o Pecado

O apóstolo nos instrui a "armar-nos com o mesmo pensamento" de Cristo, que sofreu na carne e venceu o pecado. Estamos em uma batalha espiritual, e nossas armas não são humanas. Precisamos nos revestir de toda a armadura de Deus, como descrito em Efésios 6:13, e usar armas espirituais para vencer o pecado. O apóstolo Paulo reforça isso em 2 Coríntios 10:4-5, lembrando-nos que “As armas com as quais lutamos não são humanas; pelo contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo”.

2. Viver de Acordo com a Vontade de Deus

Pedro continua, dizendo que, no tempo que ainda nos resta nesta vida, não devemos mais viver de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus. Nossa vida na terra é breve, como um vapor que aparece por um instante e logo se dissipa, conforme Tiago 4:14. Devemos, então, aproveitar esse tempo para viver para Deus e não para os desejos mundanos.

3. Desapegar-se das Coisas do Mundo

No versículo 3, Pedro nos adverte contra sentir saudade das coisas do passado. Já basta o tempo decorrido em que vivíamos  em dissoluções, concupiscências, bebedeiras e idolatrias detestáveis. Não podemos mais ter saudade dessas coisas, pois agora somos novas criaturas em Cristo “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!” (2 Coríntios 5:17).

O Perigo da Saudade do Mundo

Assim como o povo de Israel, que, no deserto, sentiu saudade do Egito, esquecendo-se de que lá eram escravos, muitos cristãos, diante do sofrimento, podem sentir saudade da vida antiga. Eles recordavam com nostalgia os melões, cebolas e alhos do Egito, esquecendo-se das correntes e do chicote dos algozes. Muitas vezes, o crente, ao enfrentar lutas, começa a ter saudade das coisas que deixou para trás.

Pedro nos alerta que não devemos mais viver segundo a vontade dos gentios, mas conforme o novo ser que somos em Cristo. Precisamos cortar os laços com a velha vida e não nos deixar levar pelas lembranças de um passado de pecado.

O Sofrimento como Instrumento de Deus

O sofrimento é um dos instrumentos pedagógicos de Deus para nos ensinar a testemunhar de Jesus Cristo. A primeira lição que aprendemos é que o sofrimento nos ensina a vencer o pecado. Agora, quero compartilhar que ele também nos ensina a dar um testemunho vivo de Jesus.

Vemos exemplos claros disso na Bíblia, especificamente no Novo Testamento, em Atos dos Apóstolos. Um desses exemplos é o de Paulo e Silas. No capítulo 16, eles foram presos por pregarem o Evangelho. O “crime” que cometeram foi compartilhar a mensagem de Jesus. Ali estavam, presos, feridos, com as costas cortadas e laceradas, sofrendo, mas optaram por uma atitude que poucos teriam: louvar a Deus ao invés de reclamar.

Louvor em Meio ao Sofrimento

Enquanto Paulo e Silas adoravam a Deus, todos os presos ouviam. Mesmo no sofrimento, escolheram honrar a Deus, sem murmurações. O resultado? A Bíblia nos diz que Deus enviou um terremoto que abriu as portas das prisões, libertando-os, além disso toda a família do Carcereiro creu no evangelho e foi salva. Esse testemunho de louvor no meio da adversidade foi um poderoso exemplo do poder de Deus.

Outro exemplo é o de Estêvão, descrito em Atos, capítulo 7. Ele estava sendo apedrejado por pregar o Evangelho, defendendo sua fé com coragem e autoridade. Mesmo sob aquele sofrimento terrível, ele clamou a Deus: "Senhor, não lhes impute este pecado", e declarou que via os céus abertos e o Filho do Homem à destra de Deus. Sua atitude no meio do apedrejamento foi um poderoso testemunho da graça e do poder de Deus.

Entre aqueles que apedrejavam Estêvão estava Saulo de Tarso, que mais tarde, tocado por esse testemunho, se converteria e se tornaria o apóstolo Paulo. Veja o impacto que uma vida comprometida com Deus pode ter!

Testemunhar Mesmo na Dor

Mesmo no sofrimento, na dor e na luta, temos a oportunidade de testemunhar de Jesus. Quero contar a história da minha sogra, que, enquanto estava hospitalizada, questionava a Deus: "Por que estou aqui?". O Senhor ministrou ao coração dela, mostrando que havia um propósito naquele momento difícil. Ela começou a testemunhar para as enfermeiras, médicos e outros pacientes. Alguns até fizeram uma aliança com Jesus ali mesmo, no leito de hospital.

O sofrimento, quando enfrentado com fé e coragem, pode ser uma plataforma para testemunhar da bondade e graça de Deus.

Difamação e Resistência

No versículo 4, Pedro nos ensina que, ao viver uma vida piedosa, inevitavelmente enfrentaremos a aversão do mundo. Ele diz que o mundo estranhará que não participamos mais dos mesmos excessos de devassidão de antes. O mundo não compreende a transformação que ocorre em nós quando nos entregamos a Cristo, e por isso difama aqueles que se afastam dos antigos caminhos.

Uma difamação comum que ouvimos é: "Rapaz, você já aprontou tanto e agora quer ser crente?" É um reflexo da resistência do mundo a quem busca viver uma vida piedosa. Mas devemos lembrar que os incrédulos terão de prestar contas a Deus, assim como todos nós.

Prestar Contas a Deus

A Bíblia nos ensina que todos compareceremos diante do tribunal de Cristo. Pastor Rick Warren, em seu livro Uma Vida com Propósito, comenta que, nesse dia, Deus nos fará duas perguntas. A primeira será: "O que você fez com o meu Filho Jesus?" A resposta a essa pergunta determinará onde passaremos a eternidade. A segunda pergunta será: "O que você fez com a sua vida?" A resposta a essa pergunta determinará quais serão as nossas recompensas na eternidade.

Reflexões sobre a Eternidade

Essa realidade deve gerar em nós um santo temor. Sabemos que um dia estaremos diante do Senhor, e Ele nos perguntará como vivemos nossa vida, mesmo quando ninguém estava olhando. O Espírito Santo nos chama a viver em retidão, e quando erramos, Ele nos convence a buscar arrependimento e perdão. Todos nós precisaremos da misericórdia de Deus.

O Último Dia

Nenhum de nós sabe quando será o último dia. Recentemente, vi um vídeo que me impactou. Uma jovem, muito alegre, estava se filmando, aparentemente celebrando a vida. De repente, ela escorregou e caiu de uma altura considerável, falecendo instantaneamente. Em um segundo, estava cheia de vida; no outro, já não mais. Isso nos lembra que a vida é passageira e incerta.

A grande verdade é que precisamos viver cada dia com propósito, sabendo que, a qualquer momento, podemos estar diante do tribunal de Cristo. Isso deve nos fazer refletir sobre como estamos vivendo e se estamos preparados para o encontro com o nosso Senhor.

O Sofrimento como Instrumento de Deus

Quando vivemos um momento maravilhoso, cheio de alegria, não queremos que a vida termine nunca. Mas, quando enfrentamos dificuldades, dependendo da intensidade da dor ou do sofrimento, chegamos a pedir a Deus que nos leve, assim como Elias fez. Elias, em meio à exaustão, pediu a morte. Alguns de nós também, diante de momentos de grande aflição, imploramos: "Senhor, já chega, eu não aguento mais, pode me levar."

Contudo, quando estamos vivendo uma fase de euforia, de momentos felizes, não queremos que a vida acabe. Mas a verdade é que não temos o controle da vida em nossas mãos. Um dia, todos nós teremos que nos apresentar diante do Senhor.

O Medo da Morte ou de Encarar Deus?

Na realidade, as pessoas não têm medo da morte em si; elas têm medo de se encontrar com Deus. Esse é o verdadeiro temor. Quando Adão pecou, ele sentiu medo de Deus e se escondeu. Todos nós, em algum momento, precisaremos prestar contas a Ele, e o apóstolo Pedro nos lembra disso. Ele afirma: "Os quais hão de prestar contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos." Somente Deus é capaz de julgar, pois Ele sonda mentes, corações, intenções e motivações. Nada fica escondido diante do Senhor, e é por isso que precisamos viver com temor e santidade.

A Morte não é o Fim

Pedro vai além e nos ensina que a morte não é o fim para aqueles que creem no evangelho. Ele afirma que o evangelho foi pregado também aos mortos. Mas como entender isso? Algumas traduções explicam que o evangelho foi pregado àqueles que, embora mortos no tempo de Pedro, estavam vivos quando Cristo pregou. Eles creram, foram julgados pelos homens, muitos morreram como mártires, mas agora vivem em espírito diante de Deus.

O que aprendemos com isso? A morte não é o fim para quem crê no evangelho. Esse deve ser o nosso consolo e esperança. Todos nós, em algum momento, passamos pela dor de perder um ente querido. Mas, em Cristo, temos a certeza de que aqueles que estão Nele não experimentam a morte eterna. Esta é a convicção que nos sustenta.

O Sofrimento como Alerta para a Volta de Jesus

Outra lição importante é que o sofrimento nos alerta sobre a volta de Jesus. Pedro nos ensina que o sofrimento é um instrumento pedagógico de Deus. Ele nos ensina a lidar com o pecado e também nos dá força para testemunhar de Jesus. Mas, além disso, o sofrimento desperta em nós o desejo pela eternidade.

Quando tudo está bem — o casamento, a família, a saúde, o emprego — a maioria de nós, mesmo cristãos, não pensa muito na volta de Jesus. Mas, quando enfrentamos provações, nosso coração se volta para as coisas eternas. Deus usa o sofrimento para nos lembrar que nossa pátria não é aqui. Ele não quer que fiquemos confortáveis nesta terra, pois somos peregrinos e forasteiros. O sofrimento nos faz ansiar pelo céu.

A lição da Águia

É como a águia faz com seus filhotes. Ela constrói o ninho com espinhos e, com o tempo, conforme os filhotes crescem, as penas que cobrem os espinhos começam a ceder. Os filhotes, então, são incomodados pelos espinhos, forçados a sair do ninho e aprender a voar. Da mesma forma, Deus permite o sofrimento para nos tirar do conforto, nos fazer amadurecer e nos lembrar que nosso verdadeiro lar está nos céus.

Jesus, nosso Salvador, prometeu: "Eu vou preparar lugar. E se eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos levarei para mim, para que onde eu estiver, estejais vós também." Que essa promessa nos encha de esperança enquanto aguardamos a Sua volta.


O Fim Está Próximo

Pedro nos ensina algo crucial no versículo 7, dizendo: "Ora, o fim de todas as coisas está próximo". Ele fala isso em meio ao contexto de sofrimento, trazendo uma lembrança importante: o fim de todas as coisas está chegando. Agora, quando ele diz que o fim está próximo, isso não significa que devemos deixar de sonhar, trabalhar ou desejar coisas boas. Podemos, sim, buscar uma vida próspera, sonhar com uma casa própria, um carro, ou uma família abençoada. Não há problema algum nisso.

Contudo, o que Pedro quer nos ensinar é que, mesmo buscando e recebendo essas bênçãos, nosso coração precisa permanecer fixado na eternidade. Devemos lembrar que, por mais que alcancemos objetivos aqui, nossa vida não se resume a isso. O perigo não está em sonhar ou alcançar, mas em perder o foco de que nossa verdadeira morada está nos céus.

O Perigo da Prosperidade

Sabemos que o sofrimento nunca foi o grande desafio do povo de Deus. A verdadeira armadilha não está nas lutas, nas batalhas ou nas provações, mas na prosperidade. Isso porque, enquanto poucos se desviam no sofrimento, muitos se perdem na bonança. Quando tudo vai bem, muitos se esquecem de Deus, acreditando que, ao alcançar suas metas e bênçãos, já cumpriram seu objetivo.

Em Deuteronômio, capítulo 8, o Senhor fala claramente ao Seu povo: "Lembre-se de como o Senhor, o seu Deus, os conduziu por todo o caminho no deserto, durante estes quarenta anos, para humilhá-los e pô-los à prova, a fim de conhecer suas intenções, se iriam obedecer aos seus mandamentos ou não. Assim, ele os humilhou e os deixou passar fome. Mas depois os sustentou com maná, que nem vocês nem os seus antepassados conheciam, para mostrar-lhe que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca do Senhor. As roupas de vocês não se gastaram e os seus pés não incharam durante esses quarenta anos. Saibam, pois, em seu coração que, assim como um homem disciplina o seu filho, da mesma forma o Senhor, o seu Deus, os disciplina." (Deuteronômio 8:2-5) E mais à frente, nos versículos 17 e 18, Ele alerta: "Não digam, pois, em seu coração: "A minha capacidade e a força das minhas mãos ajuntaram para mim toda esta riqueza". Mas, lembrem-se do Senhor, do seu Deus, pois é ele que lhes dá a capacidade de produzir riqueza." Deus sabia que, ao alcançar prosperidade, o povo poderia esquecer-se de quem lhes concedeu tudo.

O Sofrimento nos Ensina a Buscar a Eternidade

Por isso, Deus permite o sofrimento. Não para nos punir, mas para nos lembrar que não somos deste mundo. O sofrimento nos torna desconfortáveis neste mundo, nos impulsiona a pensar na eternidade e na volta de Jesus. Quando tudo está bem, tendemos a nos acomodar, a querer que "o mundo nunca acabe". Mas quando as dificuldades surgem, somos lembrados de que nossa verdadeira pátria não é aqui, mas nos céus.

É interessante notar que, sempre que acontece uma catástrofe, logo ouvimos: "Jesus está voltando!" É verdade, Jesus está voltando, mas não devemos lembrar disso apenas em tempos de calamidade. Pedro nos alerta que o sofrimento é um instrumento de Deus para nos manter atentos à eternidade, despertando em nós o senso de urgência.

A Sobriedade e o Alerta para a Volta de Cristo

Pedro continua no verso 7: "Sede, portanto, criteriosos e sóbrios". Devemos viver com moderação, equilíbrio e sobriedade, especialmente diante da iminência da volta de Jesus. Ele ainda acrescenta: "Para o bem das vossas orações." Uma vida piedosa, equilibrada, é a base para uma oração bem-sucedida. Isso nos ensina que, quanto mais alinhada com Deus estiver nossa vida, mais poderosas serão nossas orações.

A Empatia Gerada pelo Sofrimento

Outro ensinamento valioso que Pedro nos traz é que o sofrimento nos torna mais empáticos com a dor alheia. Quando passamos por momentos difíceis, tendemos a ser mais misericordiosos com aqueles que sofrem. Pedro fala sobre isso no versículo 8 e 9: "Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre uma multidão de pecados."

Lembro-me de uma história que ilustra bem essa verdade. Taiana, uma irmã que congrega conosco aqui no Ministério Shallom, perdeu o esposo de forma trágica. Pouco depois, uma outra mulher na cidade também perdeu o marido em um acidente. Taiana, mesmo em meio à sua dor, mobilizou suas amigas e levantou recursos para ajudar aquela mulher, que não tinha condições financeiras. O sofrimento de Taiana fez com que ela tivesse um coração ainda mais compassivo, movendo-a a ajudar o próximo.

Essa é a grande lição do sofrimento: ele nos dá o privilégio de sermos empáticos com a dor dos outros. Muitas vezes, vemos mães que perderam filhos se dedicando a causas para encontrar cura para a doença que levou seus entes queridos. A dor transforma-se em missão.

O Amor Intenso e Verdadeiro

Pedro nos lembra que devemos amar intensamente uns aos outros. Não um amor fingido ou superficial, mas um amor real, expresso em atitudes, em ações coerentes com aquilo que falamos. O amor verdadeiro é uma evidência que de fato nascemos de Deus, e é através dele que mostramos que, realmente, estamos comprometidos com Deus e com o próximo.

Amor e Hospitalidade

Pedro nos ensina que o verdadeiro amor nos impulsiona a ser hospitaleiros. Quando amamos de verdade, abrimos nosso coração, nossas casas e nossas mãos para acolher o próximo. Ele nos exorta, no versículo 9: "Sede mutuamente hospitaleiros, sem murmuração." Mas o que significa ser hospitaleiro? É abrir as portas de nossa casa para receber os irmãos.

No contexto em que Pedro escreveu, essa prática era de extrema importância por dois motivos. Primeiro, os missionários da época estavam constantemente viajando, e as hospedarias eram caras e sujas, muitas funcionando como motéis disfarçados, como ainda vemos hoje. Por isso, Pedro exorta a receber em casa os irmãos, os missionários. Isso é amor, isso é empatia.

O segundo motivo é que a igreja primitiva não tinha templos próprios. Quando a Bíblia diz que a igreja se reunia no templo e de casa em casa (Atos 5:42), o "templo" mencionado era o templo dos judeus, onde a igreja se reunia no pátio, como um “empréstimo temporário". Portanto, a igreja se reunia nas casas dos irmãos. Por exemplo, a igreja se hospedava na casa de Áquila e Priscila (Rm 16:5), na casa de Filemom (Fm 1:2). Pedro, então, reforça: "Sejam hospitaleiros sem murmuração”, porque isso é amor na prática.

Quantas vezes somos hospitaleiros, mas murmuramos? "Ah, minha casa dá muito trabalho, não sei se quero receber." Pedro nos ensina a praticar o amor genuíno, sem reclamações. Ser hospitaleiro é uma oportunidade de viver o amor de Cristo na prática. Em nossas células, temos essa oportunidade semanalmente: abrir nossas casas e nossos corações para receber os irmãos.

Servir Mesmo em Sofrimento

Pedro continua, nos versículos 10 e 11, ensinando que o sofrimento nos oferece uma oportunidade de servir com os dons que recebemos. "Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus." Deus nos deu dons para abençoar outras pessoas, e esses dons não foram dados para ficarem escondidos ou enterrados.

Na parábola dos talentos, vemos essa lição de forma clara: um recebeu cinco talentos, outro dois e o terceiro, um. Cada um recebeu de acordo com a sua capacidade de administrar. O que recebeu cinco, trabalhou, multiplicou e trouxe mais cinco. O que recebeu dois, fez o mesmo. Mas o que recebeu um, enterrou. E qual foi a resposta do Senhor ao servo que enterrou o talento? "Servo mal e preguiçoso…" Deus espera que usemos nossos dons para servir e multiplicar.

Mesmo no sofrimento, temos a oportunidade de servir. Às vezes pensamos: "Estou sofrendo, não consigo servir." Mas a melhor maneira de vencer o sofrimento é servindo. Quantas vezes eu mesmo subi ao púlpito sem vontade, com o coração partido, e ao final do culto, saí abençoado, porque servir ao povo de Deus por meio da pregação. Quando servimos, somos abençoados por Deus.

O Propósito do Sofrimento

O sofrimento também tem um propósito. Deus permite que passemos por momentos de dor para que possamos nos esvaziar de nós mesmos e depender totalmente d’Ele. Foi o que Paulo experimentou quando orou para que Deus tirasse o espinho da carne, mas a resposta de Deus foi: "A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza."

Paulo entendeu que, em sua fraqueza, ele dependia totalmente de Deus. E assim é conosco: quando estamos fracos, quebrados, sem forças, Deus nos usa de maneira sobrenatural. Quando servimos, não é em nossa própria força, mas na força que Deus nos dá.

Servir na Força de Deus

O texto de Pedro nos lembra: "Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, sirva na força que Deus supre." Não servimos em nossa própria força, mas na força de Deus. Quando estamos esgotados, quando nos sentimos incapazes, Deus nos fortalece e usa nosso serviço para abençoar outras pessoas.

Mesmo no meio da dor, Deus nos dá dons para servir. Ele não desperdiça nossas dores nem nossas experiências dolorosas. Pelo contrário, Ele usa tudo isso para construir algo grandioso em nós e através de nós.

Uma Pérola Formada no Sofrimento

Certa vez, uma irmã me perguntou: "Por que estou sofrendo tanto?" Eu lhe respondi: "Deus está construindo uma pérola em você." Expliquei que a pérola é formada dentro da ostra quando um corpo estranho, como um grão de areia, entra e começa a machucá-la. Em resposta, a ostra libera uma substância chamada nácar, que envolve o corpo estranho e, com o tempo, forma uma pérola.

Assim também acontece conosco. No meio do nosso sofrimento e dor, Deus está construindo pérolas em nós. Ele usa o sofrimento para moldar algo precioso em nossas vidas. Portanto, levante suas mãos aos céus e adore ao Senhor, pois Ele está formando algo precioso em você, mesmo no meio da dor. Amém?



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